
vendida em todo o mundo, além de ocupar o terceiro lugar no ranking dos países
que mais consomem derivados anfetamínicos. Os dados citados pelo
diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, durante a abertura do Painel
Técnico Internacional sobre Eficácia e Segurança dos Medicamentos Inibidores de
Apetite, evidenciam uma contradição. Se os índices de obesidade têm crescido no
Brasil nos últimos anos, qual a eficácia da utilização dos anorexígenos no
tratamento da obesidade?
Esse e outros questionamentos norteiam o Painel Internacional promovido pela
Anvisa, que acontece nesta terça-feira (146), em Brasília. O objetivo é
identificar o perfil de segurança e eficácia dos medicamentos inibidores de
apetite com a finalidade de dar subsídios à tomada de decisão da Diretoria
Colegiada da Anvisa sobre a retirada ou manutenção destes medicamentos no
mercado farmacêutico brasileiro.
Durante o período da manhã, o debate se concentrou na análise dos prós e
contras do uso da Sibutramina, com base nas evidências científicas disponíveis,
em especial no mais recente estudo realizado com o medicamento, o estudo SCOUT.
A pesquisa em questão foi realizada em 16 países, com 10.744 mil pacientes, e
indicou um aumento significativo do risco cardiovascular em pacientes com
histórico de problemas cardiovasculares.
Segundo o parecer técnico da Anvisa, os riscos da utilização da Sibutramina
superam os benefícios. “Os fatores de risco cardiovascular se misturam com a
obesidade por si só, sendo difícil separar grupos de pacientes para os quais a
utilização do medicamento apresentaria margem de segurança aceitável”, afirmou
Laís França, do Núcleo de Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa. Entre
as reações adversas destacadas pela técnica, estão: elevação da pressão
arterial, arritmias, acidente vascular cerebral hemorrágico, convulsões e
depressão.
Representante do comitê do estudo SCOUT, o dinamarquês Christian Pedersen fez
uma breve exposição sobre o estudo, apresentando a metodologia utilizada e as
conclusões obtidas durante os seis anos de pesquisa. Pedersen ressaltou que os
níveis de consumo da Sibutramina no Brasil não são razoáveis, mas afirmou que o
medicamento pode ser uma alternativa terapêutica eficaz para alguns grupos de
pacientes.
“A sibutramina não deve ser prescrita irrestritamente. Os médicos precisam
avaliar cuidadosamente todas as alternativas terapêuticas e utilizar primeiro
as mais seguras, mas há casos para os quais os benefícios da Sibutramina são
inquestionáveis, como, por exemplo, no caso de pacientes com problemas nas
articulações, com dificuldade para fazer exercícios diariamente”, exemplificou
Pedersen.
Segundo o especialista, os medicamentos tipo anfetamínicos, por sua vez, cujos
riscos de provocar dependência e problemas psíquicos são amplamente conhecidos,
não deveriam ser utilizados como alternativa terapêutica para a obesidade.
Para Ricardo Meirelles, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia (SBEM) e professor da PUC-Rio, o uso da Sibutramina é benéfico,
desde que obedecidas algumas condições. “A eficácia do medicamento é real desde
que o paciente apresente perda de peso e desde que o produto seja utilizado em
conjunto com aconselhamento nutricional”, detalhou. Para o professor, a
retirada do medicamento do mercado vai deixar os médicos com poucas
alternativas terapêuticas para o tratamento da obesidade.
O professor Francisco José Roma, da Fundação Oswaldo Cruz, manifestou-se
contrariamente a este argumento e afirmou que a falta de opção terapêutica não
pode ser justificativa para manutenção de tratamentos ineficazes.
“A relação de consumo de medicamentos é uma relação complexa, com uma série de
interesses comerciais que conflitam com o interesse dos usuários. Neste
contexto, a Anvisa atua para proteger a população e tem a missão de assegurar
que apenas medicamentos benéficos para a população sejam mantidos no mercado.
Essa decisão é responsabilidade da autoridade sanitária e não fere, de maneira
alguma, a autonomia do médico”, defendeu Roma.
O diretor-presidente da Anvisa destacou a relevância do debate para a tomada de
decisão e ressaltou a necessidade de que as entidades que defendem o uso dos
anorexígenos apresentem os perfis de pacientes para os quais esses medicamentos
devam ser indicados.
O Painel Técnico Internacional sobre Eficácia e Segurança dos Medicamentos
Inibidores de Apetite continua nesta terça-feira (146), até as 18h. Todas as
contribuições e informações debatidas serão avaliadas pela Diretoria Colegiada
da Anvisa para a tomada de decisão sobre os medicamentos que estão em análise.